A programação da TV aberta brasileira: lixo cultural - parte 1

O que a sua TV faz em sua casa.

    Numa dessas minhas longas madrugadas de insônia, acabei varando a noite de sexta para sábado, e descobri que bem de manhã, por volta das 6/7 horas , a uma certa emissora de TV famosa exibe programas interessantes, e que agregam cultura, com assuntos como ecologia, educação entre outros. Fiquei surpreso pois realmente não sabia que tal emissora seria capaz de tal ato, afinal, passei a assistir pouca TV de uns meses pra cá,  e geralmente me limito a dois ou três seriados de alguns canais pagos, e vez ou outra um filme, quando acho interessante.

    Mas a questão é: porque os únicos programas que realmente transmitem algo de produtivo, são transmitidos em horários tão impossíveis? Se analisarmos a grade das quatro principais emissoras, veremos que o máximo de cultura que a grande maioria da população tem acesso são alguns documentários de sexta-feira ( que repetem sempre os mesmos temas: como Amazônia, saúde, idosos e animais exóticos) e uma ou outra reportagem dos programas de variedades de domingo a noite. Fora isso, o restante da programação não passa de lixo televisivo com a função de "entreter" a população. 

    A única exceção é a TV Cultura, o único canal aberto brasileiro que é realmente imparcial em suas noticias, que não se ocupa de sensacionalismo barato para fazer sua audiência e que realmente transmite algo de bom para a população brasileira. Porém, há certo preconceito da população com relação à emissora, talvez porque ela tem um comprometimento primeiro com a cultura e depois com o entretenimento. Nos últimos anos, a emissora vem se renovado, com programas voltados para o publico jovem e com uma linguagem mais dinâmica, mas ainda não ganhou a preferência entre a população. Talvez seja até de propósito, que a emissora prefira  manter a sua postura como emissora de respeito, do que se render as jogadas baixas que as outras emissoras tem usado para atrair telespectadores.

   Nos outros canais, vemos a coisa piorar a cada ano. Pouco a pouco, eles foram acostumando a população, que hoje está perfeitamente acostumada a ver  cenas de sexo e violência em uma "novela" transmitida na faixa das 17:30, e destinada aos pré-adolescentes e adolescentes.
    Muitas pessoas dizem, " Ah, isso é normal, não tem nada demais", porém, o fato é que só vemos isso como "normal" porque as emissoras de TV nos acostumaram a isso.

     Um exemplo que hoje nos parece bastante bobo é o filme "A lagoa azul", o qual vemos periodicamente na  nas tardes semanais.Quando o filme foi lançado nos anos 80, a censura era de 14 anos, e os cinemas eram extremamente rígidos com relação a isso. Hoje, qualquer criança pode assistir esse filme, que hoje é tachado por inocente, afinal, vemos cenas bem mais picantes, na "novela das 7" .(talvez até mais picantes que aquelas que passam nas madrugadas de sábado de um certo canal) 

    Outra questão é o sensacionalismo barato, e o imenso tsunami de tragédias que atingem a vida do cidadão brasileiro todos os dias, através dos "jornais" transmitidos atualmente. Há até programas especializados em tragédias, que fazem da morte de uma criança desconhecida, uma manifestação exagerada digna de passeata, desrespeitando muitas vezes a família da vítima, tudo para ter audiência.
  
    O que você faria se tivesse acabado de perder um parente próximo de quem gostava muito, e um imbecil de terno e microfone ficasse encima de você igual um urubu na carniça, simplesmente pra perguntar " como você está se sentindo? " . Bom; eu digo que se isso acontecesse comigo ( Deus me livre) eu acho que o jornal em questão teria mais uma tragédia pra televisionar, porém precisariam de outro jornalista.

  Enfim, poderia escrever quilômetros. A programação infantil, os programas "familiares", as tardes de domingo e os reality shows são assuntos que pretendo comentar, mas fica pra um próximo post ...